MARGENS IN_HABITADAS
A exposição no Espaço opHicina, em São Paulo, se estrutura como margens de duas exposições individuais que, em consonância dialética, traçam também recortes visuais particulares das pesquisas artísticas de Ana Roberta Lima e Pedro Diniz Kubitschek. Aqui, as margens funcionam como conjunturas semânticas para estabelecer conexões fonético sensoriais, mas há forças estéticas que emanam em cada obra de arte e no conjunto delas, que possibilitam que essas margens sejam IN_ HABITADAS pelo talhar na arte.
Nas construções plásticas dos dois artistas visuais é possível verificar as abordagens formais e conceituais que incorporam a partir de suas concepções, suas construções, suas exibições e suas projeções subjetivas. Paisagens construídas de texturas e cores (o azul índigo e as cores das margens em destaque - obras Barrancos), suportes e contextos registrados e sugeridos, movimentos de criação e de rupturas cíclicas literais e metafóricas, abordagens de questões referentes às realidades dicotômicas em contextos centrifugados da história social, artística e cultural da humanidade ou contemporâneos que fascinam no aprendizado, na imantação ou na exclusão. A beleza pela arte e seus procedimentos, a preservação ambiental, o gênero, o onírico, o lúdico e o espiritual são embates que atingem os artistas como seres humanos.
Os artistas manipulam suas vivências e conhecimentos e os transmutam pelas pinturas, aquarelas, performance, arte extramuros (a quatro mãos), impressões digitais, instalações e livros de artista, ou seja, em manifestos visuais carregados de tempestades de magnetismo sensorial cíclico e memórias flutuantes. O potencial cognitivo dos artistas transborda nas obras de arte como hábito formal ou metafórico na maleável fragilidade processual de possíveis rupturas nas voláteis relações dos seres humanos entre si e com o entorno natural, social e cultural. Há também uma relutante preocupação em priorizar as conexões interdisciplinares entre arte e vida (Obra: Terrários hematopoiéticos)
IN_HABITAR as MARGENS é concebida como uma constelação cintilante e gravitacional que possibilita constatar como as obras de arte foram pensadas e são sentidas como ARTE. Uma [...] constelação em movimento na qual se formam os modos de percepção, os afetos e as formas de interpretação que definem o paradigma da arte. [...]. Obras de arte que se afastam dos modelos hierárquicos e tradicionais para se erguerem como paradigmas estéticos [...] contra a ordem representativa que definia o discurso como um corpo de membros bem ajustados, o poema como uma história e a história como um ordenamento de ações.[...]
As obras de arte de Lima e Kubitschek no espaço arquitetônico do opHicina se estruturam em uma singular e projetiva instalação de margens habitadas e IN_contidas. Essas margens intensamente cromáticas se diluem como partituras formatadas por argumentos estéticos de contemplação, desfrute e prazer natural para provocar uma (re)conexão contemplativa e consequentemente tonificadora dos sentidos. Obras de arte e espaço arquitetônico em diálogo se conjugando em diagramas sensoriais de reflexão, assimilação e avaliação.
Phd Andrés I. M. Hernández
Curador
São Paulo, inverno de 2023